No seu substancioso estudo- História Constitucional da Paraíba, o jurista Flávio Satiro Fernandes quando comenta a instalação da ultima Assembleia Constituinte assevera que “a rigor, as dissensões começaram antes da instalação da legislatura, quando se procedeu a eleição da Mesa Diretora do Poder Legislativo, ocasião em que o Governador Tarcisio Burity viu seu candidato a Presidente, o deputado Ramalho Leite ser surpreendentemente derrotado pelo seu opositor, deputado João Fernandes da Silva, chefe de uma rebelião que com ajuda de sete deputados dissentes favoreceu uma aliança com a oposição, levando-o a chefia do Poder Legislativo”.
Recentemente, no Correio da Paraíba, o deputado João Fernandes, ainda vivendo o sabor da sua caduca vitória do século passado assim a definiu: “Foi a chapa única mais disputada da Paraíba”.
Inicialmente pretendi ser candidato sim, colhendo apoios através de assinaturas de deputados que davam para me eleger Secretário da ONU, se me perdoam o exagero.À época, porém, tinha assinatura que até em cheque precisava ser reconhecida em cartório para poder valer… O documento não valeu mas está guardado no fundo do meu baú.
O primeiro problema foi Burity: muito bom de voto mas não falava a linguagem que os deputados queriam ouvir…Na bancada eu e o João disputávamos sua aprovação e qualquer um teria o apoio da oposição. Após reunião da bancada não se chegou a um consenso. O segundo problema foi Santa Luzia: Burity lançou o deputado Antonio Ivo como nome de conciliação. O deputado Efraim Morais que chefiava a oposição irritou-se e passou a apoiar João Fernandes para evitar que seu adversário de Santa Luzia chegasse à presidência da Assembleia.
Criado o impasse e desenhando-se a vitória da oposição, Burity acordou e começou a se mexer. A presidência foi oferecida a alguns adversários, como Fernando Milanez e Aloisio Pereira, mas já era tarde demais. Diante da dissidência do PMDB contra o seu Governo, Burity pediu, sem sucesso, socorro a Ulisses Guimarães. Humberto Lucena calado estava calado ficou. Pouco depois viria o rompimento do Governador com o “seu” partido, embarcando na canoa furado do Collor com todos nós, náufragos prematuros…
Instalada a sessão pela manhã, de regimento em punho, mostrei que o horário do pleito seria a partir da 14 horas. O adiamento provocou suspense. Esperava-se uma surpresa vinda do Palácio.
Reiniciados os trabalhos pedi a sua suspensão enquanto a bancada governista se retirava para confeccionar a chapa. Não tínhamos a intenção de voltar. Ficamos os 17 deputados no mini-plenário da Liderança do Governo e, de lá, pelo serviço de som, acompanhamos o desenrolar da sessão. O deputado João Fernandes, candidato único, obteve 19 votos, portanto, a maioria absoluta necessária para validar sua eleição. Havia derrotado o governo. Quanto a mim, não podendo vencê-lo, tirei o sabor da sua vitória. Não lhe dei a alegria de me vencer.
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RAMALHO LEITE
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