Estrategistas de campanhas e especialistas em análises de cenários eleitorais trabalham com um número decisivo nesta reta final de campanha: 28 milhões de votos. Segundo analistas ouvidos pelo GLOBO, este número representa o índice histórico de eleitores que iniciam a última semana de campanha antes da eleição sem ter definido em quem votar para presidente. Eles constituem cerca de 20% dos 142.822.046 brasileiros aptos a ir às urnas no próximo domingo, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
CURTA o FOCANDO A NOTÍCIA no Facebook
A última rodada de pesquisas, na semana passada, estimou que entre 7 milhões (Ibope) e 8,5 milhões (Datafolha) de eleitores não respondem ou dizem não saber em quem vão votar para presidente. Só em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, são 3 milhões de indecisos, segundo o Ibope, ou 10% do eleitorado no estado.
Os votos voláteis se espalham por todas as candidaturas. De acordo com o Ibope, 43% dos que declaravam voto em Marina Silva (PSB) admitiam que ainda poderiam trocar de candidato. Entre os eleitores de Aécio Neves (PSDB), 39% disseram ainda não estarem totalmente certos da opção. Já entre os que escolheram a presidente Dilma Rousseff (PT), o índice de incerteza é de 31%. Segundo analistas, a vantagem da candidata à reeleição tem explicação. Como é presidente e portanto, tem um alto grau de exposição, as críticas feitas pelos rivais durante a campanha são igualmente mais conhecidas e, assim, têm impacto menor do que as que recaem sobre os adversários.
Com a diminuição da distância entre Marina e Aécio na disputa pela vaga no segundo turno mostrada nas pesquisas recentes, aumenta a relevância dessa parcela do eleitorado na última semana antes do primeiro turno. A vantagem de Marina sobre o tucano, que girava em torno de 25 milhões no início do mês, é, hoje, de 14 milhões de votos, segundo o Ibope, e de 12,8 milhões, de acordo com o Datafolha.
A análise mais detalhada dos dados do Ibope só sobre o grupo de indecisos mostra que são mais numerosos entre os eleitores com escolaridade mais baixa (7% na parcela que completou a 4ª série do Ensino Fundamental) e com renda familiar mensal de até um salário mínimo (8%).
NORDESTINOS MAIS INDECISOS
Por região, o índice é mais elevado no Nordeste, onde 7% do eleitorado ainda não decidiram em quem votar. Entre os estados, São Paulo, onde 10% estão indecisos, tem um número elevado de votos que ainda podem ser conquistados: 3 milhões. Entre os que avaliaram o governo Dilma como “regular”, 8% estão indecisos, acima da média geral de 5%. A margem de erro da pesquisa Ibope é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A sondagem divulgada pelo Datafolha na sexta-feira indica Dilma com 45% dos votos válidos (excluindo brancos e nulos), o que torna indecisos e infiéis também decisivos para a campanha petista, mesmo na liderança, em busca de uma definição no primeiro turno.
— Cerca de 20% do eleitorado devem decidir na última semana. Quando temos uma situação como a desta eleição, que pode ter fim mais apertado, uma pequena margem de votos faz muita diferença na reta final — analisa o professor Valeriano Ferreira Costa, do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, que vê como ponto mais sensível a disputa pela segunda vaga no segundo turno.
O filósofo e cientista político José Augusto Guilhon Albuquerque, do Centro de Estudos Avançados da Unicamp, acredita que os 20% de eleitores que vão decidir o voto nesta semana podem provocar mudanças surpreendentes no resultado das eleições.
— Desde o início desta campanha, nunca esteve muito claro o resultado. A incerteza tem sido bem maior. O voto por oposição tem um peso muito grande. É um voto útil e, numa situação de incerteza, é difícil definir quem tem chance de ir ao segundo turno. As curvas de Aécio e Marina podem acelerar nesta reta final.
A diretora-executiva do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, diz que, ao contrário do senso comum, que atribui o voto do indeciso ao líder nas pesquisas, a observação mostra que o comportamento do eleitor é outro.
— Esse contingente de eleitores indecisos não se distribui igualmente entre todos os candidatos. Geralmente, quem está indeciso vota no segundo ou no terceiro colocado, ajudando a levar a decisão para o segundo turno — destaca.
Já o cientista político Paulo Baía, professor da UFRJ, afirma que os indecisos constituem um eleitorado “absolutamente descrente dos políticos”. Segundo ele, é um eleitor que não se sente representado e que vai às urnas movido pela rejeição.
— É um eleitorado refratário à política. Quando vota, é contra alguém, não a favor. Acho difícil que as campanhas se beneficiem de uma corrida em direção a esse eleitor, a não ser que estimulem um voto útil contra determinado rival. Mas acredito que as campanhas, nesta última semana, vão trabalhar para tentar diminuir os índices de rejeição dos candidatos — opina.
O Globo
Comentários